Sítio da Dona Maria Baixinha – contornando as adversidades de 60 anos de cultivo de cana-de-açúcar

A ocupação das Fazendas Capelinha I e II aconteceu em Conceição de Macabu em junho de 1996 em uma área fortemente degradada pela exploração da monocultura de cana de açúcar praticada pela falida Usina Victor Sence por cerca de 60 anos. Os assentados constituíram uma relação de bom nível de organização que se tornou referência no RJ, através da Associação de Trabalhadores Rurais da Fazenda Capelinha.

As condições edafo-climáticas oferecem imensos desafios aos agricultores familiares que conquistaram a terra, sendo comum, após vários insucessos produtivos, o desânimo e mesmo o abandono dos cultivos. Além disso, o assentamento sofreu com secas e enchentes, pragas e frustrações de safras que forçaram muitos produtores a buscar fora do assentamento o sustento de suas famílias.

Dona Maria Baixinha, uma das assentadas, nasceu no estado de Goiás, é semi-analfabeta e sempre foi trabalhadora rural. Veio para o estado do Rio de Janeiro há 30 anos para tentar uma melhor oportunidade de vida. Por ter baixo grau de escolaridade trabalhou como cortadora de cana-de-açúcar da usina de Carapebus.

A experiência teve início com o plantio de guandu e posteriormente feijão-de-corda, atualmente o sítio possui plantadas várias espécies de frutíferas, hortaliças e animais. Ao chegar à propriedade, Dona Maria se deparou com uma área muito degradada, porém graças aos seus esforços uma nascente foi recuperada com o plantio de árvores diversas. Devido a isso, foi formado um lago onde há criação de peixes.

Atualmente as atividades são desenvolvidas pela Dona Maria Baixinha juntamente com os seus filhos, sendo duas filhas e um filho. A produção é comercializada numa feira no município de Macaé, feira esta organizada pela Prefeitura Municipal, o transporte até a feira é feito por uma carretinha do próprio sítio. Além da comercialização a produção também é utilizada para a alimentação da família. A comercialização de acerola e frango é feita para dois restaurantes em Macaé.

O sucesso da experiência dessa agricultora familiar revela que a adoção de determinadas estratégias produtivas podem ser eficientes no enfrentamento de uma situação bastante adversa deixada pelo latifúndio da cana-de-açúcar.

Grupo AgroCriolo

O movimento agroecológico da UENF surgiu a cerca de 10 anos através da internalização do debate de agroecologia da FEAB que o Centro Acadêmico realizava dentro da universidade. Porém ,só recentemente, foi consolidada a formação de um Grupo de Agroecologia para realizar debates e práticas sobre o tema.

O grupo que se iniciava tomou a frente da organização do VI Encontro Regional de Agroecologia da FEAB em Abril de 2008. A partir disso o grupo foi se consolidando, se fortalecendo, ganhando corpo e reconhecimento dentro e fora da universidade. Há um ano acontecem atividades práticas em uma pequena área cedida pela universidade e também debates periódicos realizados pelo grupo junto a comunidade estudantil.

A proposta do Grupo é trazer o debate da Agroecologia para dentro da universidade e a partir disso mostrar aos demais estudantes e professores as contradições do modelo do agronegócio e do atual ensino oferecido pela UENF. Os debate sempre fazem uma ponte do movimento agroecológico com as lutas dos movimentos sociais do campo , não ficando preso somente a discussão acadêmica. A metodologia visa o fortalecimento do trabalho coletivo, rompendo com o individualismo tão presente nos meios acadêmicos. O grupo proporciona vivências práticas com pequenos agricultores da região, fazendo com que o estudante se questione a partir do momento em que passa a conhecer a realidade do campo, aquela que geralmente ele não tem conhecimento durante sua formação na academia.

Durante os finais de semana acontecem os espaços de práticas agroecológicas do grupo, onde todos os membros se encontram na área experimental do grupo para realizarem trabalhos e experimentarem técnicas agroecológicas. Assim o estudante passa a ter um contato com o trabalho e com a terra, aprende a trocar conhecimento com outros companheiros, além de ser um espaço agradável e de interação do grupo.

Por ser um grupo muito novo, ainda existem algumas dificuldades metodológicas , porém os membros estão cientes disso e dia-a-dia trabalham para melhorar a dinâmica do AgroCrioulo e sabem que assim como a Agroecologia não é uma “receita de bolo” o trabalho em grupo também não é, cabe entender a dinâmica que melhor se adapta aos estudantes para se conseguir avançar nas lutas.

Os debates realizados pelo grupo sempre trazem elementos políticos da agroecologia, principalmente com relação ao enfrentamento a ideologia do agronegócio dentro e fora da universidade, em vista de formar profissionais mais conscientes do papel que tem para o desenvolvimento e fortalecimento da agricultura familiar.

Sítio Brava Gente – Cícero Guedes dos Santos

O agricultor assentado Cícero Guedes dos Santos, desde o inicio da ocupação do seu lote em 2002, já possuía o desejo de ter em sua área diversidade de plantas , respeitando a natureza e aproveitando de tudo que ela poderia dar. A natureza , inclusive, foi a fonte de inspiração para esse tipo de consciência e o entendimento da mesma fez com que esse sentimento de preservação e convívio fosse dia-a-dia aumentando.

Através da doação de sementes de um companheiro do movimento em Miguel Pereira o agricultor começou com o plantio de sua cerca viva de sabiá, inclusive o sabiá é o orgulho deste agricultor, que viu sua propriedade melhorar visualmente e também obter uma boa fonte de renda. A partir disso se inicio o desenvolvimento de experiências no lote pela observação de outras experiências realizadas em visitas técnicas proporcionadas pelo movimento(MST). O MST cumpriu papel importante na consolidação da construção do conhecimento agroecológico por parte desse agricultor. Uma vez que seus técnicos sempre proporcionaram oportunidade para uma visão diferenciada do desenvolvimento da produção agrícola através da agroecologia, seja por visita a outros agricultores ou seja por cursos de formação , etc.

Seu Cícero também é conhecido pelas suas bananas, elas estão presentes em muitas partes do lote, consorciadas com leguminosas, milho e espécies frutíferas. Demonstra ser uma pessoa interessada no desenvolvimento do seu lote e deseja muito que suas experiências sejam praticadas por outros assentados, porém existe uma resistência por parte de muitos agricultores no assentamento Zumbi dos Palmares e muito fazem a opção pela monocultura de cana, coco ou pasto, o que torna ainda maior o desafio da construção da agroecologia. A família sempre se envolveu nas tarefas do sítio. Os filhos crescem vendo a experiência se desenvolver e vão aprendendo com o pai e todos tem ciência de que os alimentos que hoje estão na mesa da família são de qualidade muito superior aos do supermercado e isso desperta o interesse dos filhos para que também participem das lutas do pai.

Ele relata que desde que as experiências no seu lote passaram a dar certo, houveram alguns erros experimentais no meio do caminho, a qualidade de vida dele e da família melhorou bastante e é isso que lhe dá energia para continuar sempre. Seu Cícero é uma referencia tanto entre os companheiros de movimento como também entre estudantes e professores da Universidade do Norte Fluminense, que o vêm como um dos ícones da construção do conhecimento agroecológico no Norte Fluminense.

Feira de Produtos Agroecológicos do P5-UENF